quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A aura dos objetos artísticos



 O aparecimento e desenvolvimento de novas formas de arte, como a fotografia e o cinema, com as quais deixa de fazer sentido distinguir entre original e cópia, traduz-se no fim da «aura» dos objetos artísticos. A fotografia e o cinema podem agora ser reproduzidos e apresentadas em vários locais, em simultâneo, e de forma absoluta, ao contrário de uma pintura que só se expõem num local num determinado tempo. Walter Benjamin foca-se então no aqui-agora, conceito que confere à obra a sua unidade, a sua aura, que é composta por tempo e espaço. Com a reprodutibilidade técnica, a obra perde, então, a sua aura, o seu aqui-agora. Assim, para o autor há algo que se perde do momento da criação, a autenticidade e a autoridade, visto que não podem ser reproduzidas. 
Esta perda da aura liberta a arte para novas possibilidades, pois livra-se do tradicionalismo e do elitismo burguês, para se virar agora para a grande massa. Podemos dizer que as novas tecnologias democratizaram a arte, numa nova lógica modernista de caris capitalista. Walter Benjamin considera a reprodutibilidade técnica como a mudança estética na relação entre modernidade e mecanização. O autor relaciona a queda da aura da obra de arte com a ideia de “politização da arte”, onde se verifica a queda de todos os valores inerentes à arte, a autenticidade, a singularidade, a originalidade, o mistério, a durabilidade. A percepção da arte muda com a reprodução massiva, o que leva, também, a transformações sociais. Mudam os paradigmas da arte, a função cultural e ritual da arte desaparece para dar lugar à  sua função política.
Na dimensão estética a reprodutibilidade massiva da arte faz aumentar o valor de exposição, que se vai traduzir na democratização e na, consequente, emancipação das massas. Já na dimensão política, esta mudança implica um público mais receptivo aos estímulos, que são controlados por quem controla os instrumentos  políticos.



terça-feira, 26 de novembro de 2013

Tecnologia - Arte

                 Uma e Três Cadeiras, Joseph Kosuth,1970.

A tecnologia moderna visa responder de forma sempre satisfatória às novas necessidade do homem. O homem moderno é cada vez mais receptor/consumidor. portanto, a enorme quantidade de imagens que hoje habitam e constroem o mundo respondem simplesmente à vontade/necessidade, que o homem tem de ver o seu próprio mundo projetado. Estas imagens respondem a uma espécie de afastamento que tornam possível a aproximação/compreensão, o sentimento de pertença, veja-se o caso dos cada vez mais banais simuladores “secund life”.

A tecnologia moderna exerce no homem uma espécie de alienação, pois é ela que segundo Heidegger domina o homem. A tecnologia opera o nivelamento do homem, cria as sociedades de massa, altamente produtivas e consumistas, onde a solidão impera. Nesta sociedade de massas o homem coloca de lado a sua individualidade e as suas múltiplas possibilidades, reservando para si esse papel de mero ordenador de energia (bestand), pois recebe as imagens já criadas e transformadas pela tecnologia universalizante e globalizadora.

Heidegger vê a natureza e a arte como a saída desta generalização do pensamento e do homem-tecnológico. Para o autor natureza e arte partilham um mesmo caminho com a verdadeira essência da técnica (téchne). Na arte reside o domínio do real, o questionamento, a diferença, o desvelamento. Contrapondo o processo Ges-tell, que domina a arte moderna onde tudo é descartável e substituível. Heidegger revela que espera que a arte seja na sua essência plural, cheia de possibilidades, libertadora, aberta a múltiplas experiências. O autor revê na arte a possibilidade de salvação do homem, a única forma deste se voltar a ligar com a natureza, de se ligar às suas raízes e origem.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A questão da técnica” em Martin Heidegger

Heidegger constrói no seu texto uma reflexão sobre o homem e a sua contemporaneidade, procura identificara a relação do homem com a tecnologia moderna (Ge-stell) e a forma como estes interagem com a natureza. O autor começa por procurar o sentido original de técnica, voltando-se assim para a base, o conceito de techné grega. Contudo, o seu raciocínio não se fixa na essência da técnica, recusa mesmo a ideia de que a técnica seja um meio para um fim, uma simples instrumentalização ou casualidade, aproxima mesmo o conceito da ideia de caminho revelador, de desvelação (poiésis), de desencobrimento do ser e da verdade. A técnica revela-se então como um tipo de saber, no qual o seu sentido não depende de algo técnico.
Para Heidegger o homem nunca dominará por completo a técnica, apesar de ser o homem quem a cria, esta aparece-lhe como um caminho um destino mas nunca como uma fatalidade, já que o autor considera que existe a possibilidade mesmo que só para alguns, de conseguirem um relacionamento com a tecnologia de uma forma livre.   
            A arte aparece então ao autor como a verdadeira possibilidade de estabelecer esta relação livre entre técnica, vida e natureza. Apesar de a arte na contemporaneidade estar dominada pelo ge-stell. O autor vê o poeta como o ser capaz de caminhar até a origem e regressar, pois este segue apenas o seu destino. O poeta tem então a capacidade de caminhar entre a arte e a técnica, de chegar ao seu ponto em comum à techné, e de voltar para desvelar (poiésis),.
            Então surge a ideia de que salvação e perigo coabitam no mesmo espaço, pois se ge-stell direciona-nos para o afastamento da essência, a poiésis indica-nos o caminho que o autor cré de salvação o de regresso à essência.